Se for assim o amor. Não me ame.

A tradição da pintura de retratos. Os retratos estão na formação do olhar na História da Arte e na maneira de olhar da arte. Desde que se parte do desenho para apresentar ou representar o mundo, conceitos e pensamentos, o retrato existe para dialogar com a realidade. Feito com pessoas conhecidas ou não, o retrato é um dos principais veículos para percepção e entendimento da produção artística humana ocidental.

Na exposição, Panmela Castro traz um contorno para o desenvolvimento de seus retratos. Os retratos vêm de uma relação estabelecida entre artista e retratada. As pinturas partem de um depoimento de cada uma das retratadas à artista. Este relato constrói uma relação entre público, obra e artista. O trabalho se constitui desta triangulação.

São pinceladas e escrita, o trabalho de Panmela Castro tem a necessidade de ser conjunto, em Retratos Relatos seu corpo atua na tradição europeia da pintura em retratar personalidades, eternizar pessoas e momentos na tela. E são pessoas a serem eternizadas. Os relatos descrevem atos comuns na nossa sociedade, somos agredidas a cada dia como se nada fora, na dinâmica da dor que constrói o caráter, do sofrimento que leva à redução, da riqueza como recompensa da forja.

Ser tratada a ferro e a fogo na expectativa de resposta suave e delicada... Panmela invisibiliza o algoz e eleva a vítima. Não como redentora, mas como parte de sua existência. As violências sofridas, aqui em conjunto, não são casos isolados que dão merecimento às mulheres para serem retratadas. As histórias aqui são comuns, estruturadas no nosso corpo, reconhecidas.

São excepcionais sim, elas e Panmela.

Assim, retrato, retratar, ser retratada, ser exposta, ser obra de arte, observar processo lidar com a arte, fazer parte da obra de arte. Toda esta complexidade compartilhada. A exposição é uma possibilidade de relação.

​

- Keyna Eleison (Curadora)