

Carolina Maria de Jesus
1914 - 1977 | Minas Gerais, Brasil
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“Se é que existem reencarnações, eu quero voltar sempre preta.” A frase, escrita por Carolina Maria de Jesus em seus diários, ressoa como um manifesto de alguém que jamais quis ser outra além de si mesma. Catadora de materiais recicláveis e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, Carolina se tornou uma das primeiras escritoras negras a alcançar reconhecimento nacional e internacional.
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Seu livro Quarto de Despejo (1960), traduzido para mais de 13 idiomas, ofereceu ao mundo um olhar profundo sobre a experiência de ser mulher negra e a realidade de viver em uma favela. Carolina uniu, de forma pioneira, as questões de raça, classe e gênero em sua escrita, influenciando profundamente o debate contemporâneo sobre as condições das mulheres negras no Brasil. Com um estilo questionador, usou a escrita como ferramenta de denúncia, oferecendo uma visão crítica do Brasil e expondo suas desigualdades. Não por acaso, Quarto de Despejo foi censurado em Portugal pelo regime de Salazar, em 1961, e, em 1971, considerado subversivo pela ditadura militar brasileira.
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Após o sucesso de seu primeiro livro, Carolina não obteve o mesmo reconhecimento que outras autoras brancas. Com o tempo, foi se afastando do meio literário, vivendo o esquecimento enquanto ainda estava viva. Embora tenha sido reconhecida tardiamente, tornou-se um símbolo cultural e político na luta pelos direitos à cidade, à moradia, à educação e pela igualdade racial.













