Vigília
Ao anoitecer, o ateliê de Panmela Castro se abre para receber amigas e pessoas próximas em uma vigília na qual o retrato pintado se torna a memória do clima compartilhado durante o encontro. Panmela transforma as longas horas da noite em um espaço de criação e escuta, oferecendo-se como ferramenta para a construção da imagem da pessoa retratada diante do mundo. Por isso, o retrato é feito presencialmente — não para que a convidada pose durante toda a noite, mas para que possa imaginar sua imagem sendo pintada ao lado de Panmela.
A pintura torna-se uma memória sensível do acontecimento, refletindo a harmonia — ou a ausência dela — entre modelo e artista. A superfície pictórica não busca fixar uma identidade estática, mas registrar atmosferas: conversas, silêncios, agitação, vestígios de dança, cansaço e tudo o que mais possa surgir naquele momento. O gesto da pintura varia conforme a experiência vivida; algumas telas são marcadas por gotejamentos, camadas espessas de tinta ou pinceladas contidas, revelando a instabilidade e a intensidade das relações que se desdobram durante essas horas.
Por serem encontros noturnos, muitas vezes acompanhados de champanhe, as defesas sociais tendem a cair, e as pinturas tornam-se íntimas. Gestos aparecem que não surgiriam em retratos formais: marcas vulneráveis, livres, instáveis — traços de um tempo compartilhado que existe fora do relógio produtivo, em um espaço que parece seguro para simplesmente existir.
Vigília propõe o retrato não como representação, mas como inscrição de uma experiência vivida. O processo é performático, confessional e relacional, apresentando a arte como um dispositivo de cuidado, alteridade e política afetiva.

Marisa Monte, 2024
Mc Carol de Niterói, 2021
Bruno & Ismael, 2020
Pablo León de La Barra, 2020
Pâmela Carvalho, 2020




























